Terminou neste domingo (4) o 39º Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), que reuniu em São Paulo cerca de cinco mil estudantes do ensino fundamental, médio,profissionalizante e pré-vestibular de todos os estados do país. O encontro elegeu a pernambucana Manuela Braga, de 19 anos, — aluna do curso técnico deSaneamento Ambiental no Instituto Federal de Ensino de Educacao,Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IF-PE) — a nova presidente da entidade.

Manuela Braga é eleita com 82,5% dos votos do 39º Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes)
Manuela, que vive no Recife, terá agora o desafio de percorrer as
escolas de todo o país, conhecendo os problemas de cada grêmio e
debatendo soluções para a educação brasileira.
Participaram da votação 1.561 delegados, escolhidos em eleições
realizadas em escolas de todo o país. A chapa que elegeu Manuela,
“Movimento estudantil unificado pelas mudanças do Brasil”, teve 1.288
votos,correspondendo a 82,5% do total. O outro candidato à presidente da
Ubes foi Gladson Reis, de Belo Horizonte, representando a chapa
“Rebele-se: A Ubes é para lutar”, que teve 273 votos — 17,5% do total.
Considerado o mais importante encontro do movimento estudantil
brasileiro, ao lado do Congresso da UNE, o Congresso da Ubes definiu os
rumos do movimento estudantil secundarista para os próximos dois anos.
Com o tema “Todos juntos por uma educação do tamanho do Brasil”, o
encontro serviu também para convocar a manifestação #OcupeBrasília, um
acampamento dos jovens na Esplanada dos Ministérios, a partir dessa
segunda-feira (5), em defesa da aprovação do Plano Nacional de Educação
(PNE) com 10% do PIB investidos nesse setor.
Manuela
A nova presidente da Ubes terá a partir de agora que conciliar as aulas,
livros e provas com a missão de representar os milhões de estudantes
brasileiros do ensino fundamental,médio, técnico e pré-vestibular.
Ao que parece, não será uma tarefa fácil. Nos bastidores do Congresso
que a elegeu, visivelmente emocionada, Manuela deixou escapar que também
está com a cabeça nas aulas de biotecnologia. É certo que nada parece
ter sido muito fácil na história de vida dessa jovem nordestina, cuja
mãe veio da pequena Nazaré, no interior do Piauí, e o pai de Vicência,
no sertão pernambucano. Militante da União da Juventude Socialista
(UJS), antes de se tornar presidente da Ubes, ela presidiu a União
Metropolitana de Estudantes Secundaristas do Recife e foi líder do
grêmio de sua escola técnica.
Comunicativa e animada, torcedora do Sport Clube Recife, fã deforró, MPB
e até funk carioca, guarda carinho também pelo teatro e pelo cinema. Na
literatura, seu livro favorito é “A Hora da Estrela”, cânone de Clarice
Lispector. Curiosamente, o romance conta a vida de outra jovem
nordestina, Macabéa, com origens familiares pobres nos rincões do
Brasil. No entanto, ao contrário da personagem lispectoriana, cuja
triste trajetória é marcada pela exclusão social, pela opressão e o
esquecimento no sudeste, Manuela ganha o centro das atenções no debate
público do país, tendo muito a falar e disposta a mudar a realidade:
“Sempre me incomodei em conhecer estudantes pobres que não assistiam
aula por não ter dinheiro para o transporte, sempre me incomodei em
conhecer alunos do turno da noite que não possuíam dinheiro para a
alimentação. Essa ainda é a realidade de muitos, não somente no
nordeste, mas em todo o país”, afirma.
Como principais objetivos de sua gestão Manuela elenca a ampliação do
ensino técnico e de projetos como o Pronatec, a reforma do ensino médio
aliando a educação propedêutica à aprendizagem profissional, o aumento
de investimentos na escola pública, a conquista federal da meia-entrada e
do passe-livre para estudantes de todos os estados e o fortalecimento
das políticas públicas para a juventude no país.
Além disso, espera ver o movimento estudantil secundarista ainda mais
antenado com outras pautas como o meio ambiente, assunto que gosta e
domina, e o preconceito contra as mulheres. “Conheço muitas meninas,
dentro das escolas desse país, que têm sonhos, inteligência e muita
capacidade de participar dos grêmios, da Ubes, mas sofrem preconceitos e
repressão de todos os tipos.São mal vistas pelos colegas, pela família,
pela sociedade que não compreende uma mulher nova e livre, com
participação política, poder e voz. Isso precisa mudar”, enfatiza, em um
tom que soa como um convite a todas as potenciais jovens Macabéas do
Brasil a se tornarem protagonistas na mudança do roteiro de suas vidas e
da nação.
Com informações da assessoria de imprensa da Ubes